22 de fev. de 2011

Metais pesados: uma enorme pilha de problemas


por Igor Fabian de Goes Lopes

O chumbo é um velho e problemático conhecido nosso. Nas últimas décadas, vários países do mundo vem se esforçando para bani-lo de qualquer produto e processo industrial, a fim de eliminar os riscos de contaminação e acidentes ambientais. Ainda assim, ele continua sendo um dos principais componentes de muitas baterias usadas por aí.
Há alguns dias na China, uma indústria clandestina de baterias automotivas foi fechada após exames médicos confirmarem a contaminação por chumbo em  cerca de 200 jovens moradores da região vizinha à fábrica, sendo que 24 precisaram ser hospitalizados. Esse caso é apenas o mais recente de uma série de outros similares na China, cuja indústria é conhecida no mundo inteiro pela alta produção à custa da falta de qualidade e de condições seguras de trabalho.
Essa falta de cuidado na manipulação de metais pesados e produtos tóxicos não é exclusividade da China. Basta lembrar que em 2010 houve um vazamento de lama tóxica que atingiu várias cidades na Hungria, contaminando inclusive o rio Danúbio.  Nem precisamos ir ao outro lado do mundo, o Brasil também não está livre dessa ameaça.  Talvez aí do outro lado da sua rua exista uma indústria clandestina trabalhando com substâncias perigosas sem a menor segurança.
O problema é que pela tendência tecnológica o uso de pilhas e baterias, feitas com esses metais pesados, só tende a aumentar. Os carros, motos e bicicletas elétricos são uma maravilha moderna, pois acabam com o problema da emissão de carbono dos motores a combustão, mas como nem tudo são flores, é preciso antecipar também o problema da geração de lixo decorrente das baterias usadas que serão descartadas. Imagine se toda a frota de automóveis com motores a combustão em circulação hoje no Brasil, de repente fosse substituída por veículos elétricos, cada um com uma bateria? E alguns modelos utilizam até mais do que uma só bateria. Onde elas seriam jogadas depois de esgotadas? Pelo menos, trocaremos um problemão, que é a emissão de carbono, por um probleminha, que são as baterias descartadas, afinal, elas podem ser recicladas. Por outro lado, se já é difícil descobrir o que fazer com as pilhas comuns, imagine baterias automotivas enormes, pesadas, e ainda por cima tóxicas?
Há, nas baterias chumbo-ácido presentes nos automóveis de motores a explosão, uma logística por parte dos fabricantes para o seu reaproveitamento. Mesmo assim, não é difícil encontrar depósitos irregulares onde as baterias ficam empilhadas em um terreno qualquer, expostas ao vento e à chuva.
O agravante é que elas só são viáveis se forem recarregáveis, e todas as baterias recarregáveis no mercado contém metais pesados, sendo as principais as de chumbo-ácido e de níquel-cádmio.
A reciclagem de pilhas e baterias é mais um dos abacaxis do lixo tecnológico a serem descascados. Sim, abacaxis, porque se fossem bananas a serem descascadas, pelo menos metade do problema já estaria resolvido . Essas pilhas comuns e alcalinas (chamadas Le Clanché) podem ser descartadas no lixo comum segundo os fabricantes, porque seus teores de mercúrio são considerados seguros pela lei, mas teores seguros não são necessariamente teores nulos. Elas ainda apresentam traços mínimos que não podem ser ignorados, principalmente se tivermos uma grande quantidade delas juntas, como em um lixão, por exemplo. E ainda, aproveitando o gancho da indústria chinesa, devemos abrir o olho para as pilhas piratas! Essas são irregulares e não tem seus teores de metais pesados controlados, sendo normalmente muito acima do permitido. E atenção também para as pilhas-botão, as populares pilhas de relógio, que pesar de pequenas contém mercúrio como principal componente.
No Brasil existem pouquíssimas indústrias que processam pilhas e baterias usadas, porém já são muitos os programas de coleta voluntária em prefeituras, bancos, mercados e pontos de venda. Apesar de difícil e muito problemática, e ainda estar engatinhando, a reciclagem dos metais pesados dessas baterias promete ser um negócio da China! Só esperamos que a China tome mais cuidado e seja mais responsável  pela segurança ambiental de suas indústrias, e que casos como esse sirvam de alerta para todo o mundo, inclusive para nós aqui no Brasil.

Fonte: http://essetalmeioambiente.com

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