Com a publicação das listas de aprovados nos principais vestibulares do país, os mais concorridos e mais desejados, em muitos lares a comemoração é certa. Depois de anos de estudo, investimento financeiro, emocional e intelectual, a recompensa chegou.
Nem todos, porém, estão felizes. Na verdade, para a grande maioria há a frustração. Em algumas carreiras, para cada um que conseguiu uma vaga, quarenta ficaram sem. Mais uma vez, vão ter que arregaçar as mangas e enfiar a cabeça nos livros. Ou até cursar uma faculdade que não seja de ponta.
Entre esses, alguns podem pensar de que foi muito esforço para nada, não sendo justo ficarem sem uma vaga. Como pode também não parecer justo ter poucas vagas em universidades tão boas e ainda por cima de graça.
Talvez não seja justo mesmo. Mas, para quem a vida é justa, nessa ideia que fazemos de Justiça, em que há tudo para todos e de maneira igual? Viver é estar constantemente lutando para que as coisas caminhem da melhor maneira possível, não idealizada. Isso é para todos. Basta observarmos os animais na natureza, que vida dura – tendo que caçar e procurar sua comida diariamente; tendo que se defender dos seus predadores e acidentes naturais. É um lutar constante e diário.
Para nós também é assim. Só que dentro de um sistema com certa organização – chamado civilizado – em que as vagas no ensino superior não são disputadas com duelos de morte, mas com uma prova de três ou quatro dias, depois de muito preparo e dedicação. Perde-se a vaga e não a vida – a luta pode e deve continuar.
No entanto, as provas só vão se repetir depois de muitos meses, novos estudos, investimentos ... A ideia que fica é de que se está perdendo tempo e dinheiro. Principalmente para aqueles jovens que são muito cobrados pela família, ou por eles mesmos. O tempo todo que estiveram na escola, o único objetivo que tinham era passar no vestibular de alguma universidade pública. As escolas de ensino médio ensinaram isso para eles e para seus pais. Afinal, ter alunos que foram aprovados nessas instituições dá muito status.
Mas, como já disse, não há vagas para todos. Então, aqueles que não foram aprovados em alguma instituição reconhecida estão fadados a fracassarem na vida? Pelo contrário, há lugar para todos.
É isso que precisamos ajudar os nossos jovens enxergarem. No caso, eles perderam apenas uma batalha. A vida continua para ser vivida e desbravada. Para isso, necessitarão da ajuda de seus familiares, principalmente os pais. Muitos deles também estão tristes. A maioria torcia para que os filhos entrassem numa universidade pública. O custo que envolve cursar uma particular é alto.
Não adianta nada massacrar os jovens com discursos de que não se empenhou o bastante. Nem tudo dependeu do talento deles, a concorrência é muito grande e, por vezes, desigual.
O importante é apoiar o filho – dando um colo mesmo. Para depois, juntos, verem as possibilidades que têm. Se puderem ver sem o tom do fracasso, enxergarão muitas. Quem sabe o jovem pode vislumbrar nesse período, entre um vestibular e outro, o que realmente deseja fazer. E aquele que parecia ser um tempo perdido, transforma-se em tempo de amadurecimento.
O importante é apoiar o filho – dando um colo mesmo. Para depois, juntos, verem as possibilidades que têm. Se puderem ver sem o tom do fracasso, enxergarão muitas. Quem sabe o jovem pode vislumbrar nesse período, entre um vestibular e outro, o que realmente deseja fazer. E aquele que parecia ser um tempo perdido, transforma-se em tempo de amadurecimento.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)
Fonte: g1
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