10 de jan. de 2011

O mundo sem sexo de uma formiga da amazônia

Através de testes genéticos, os cientistas descobriram que não há machos 'Mycocepurus smithii' e que as formigas são clones da rainha da colónia. A reprodução assexuada permite poupar energia na procura de um parceiro, mas deixa também os animais mais susceptíveis a eventuais parasitas. Esta formiga alimenta-se de fungos que são também assexuais.

Quando os cientistas começaram a estudar a formiga Mycocepurus smithii estranharam ao não encontrar qualquer macho. Agora já sabem porquê. Só existem fêmeas nesta espécie, que vive na Amazónia. Mais estranho ainda é o fato de esta formiga assexuada, que se reproduz através da clonagem, se alimentar de fungos que se reproduzem da mesma forma.

A descoberta deste mundo sem sexo foi revelada na última edição da revista Proceedings of the Royal Society B. "Nos insetos há vários tipos diferentes de reprodução. Mas esta espécie desenvolveu o seu próprio método", disse à BBC a bióloga Anna Himler, da Universidade do Arizona, que liderou a equipe internacional responsável pelo estudo.

Foi através de testes genéticos que os investigadores descobriram que todas as formigas eram clones da rainha da colónia. Ela é a única capaz de se reproduzir, uma vez que todas as trabalhadoras são estéreis. Além disso, a dissecação de vários animais permitiu verificar que não têm os órgãos sexuais necessários para a reprodução sexual, uma vez que estes estão atrofiados.

Os cientistas não sabem porque é que a Mycocepurus smithii evoluiu neste sentido, nem há quanto tempo o fez. Certo é que esta clonagem permite duplicar a cada geração o número de fêmeas reprodutoras. E permite à rainha o controle total sobre o número de membros da colónia. Além disso, poupa energia. Como? Bem, não é preciso sair à procura de parceiro.

Mas um mundo sem sexo não é perfeito, dizem os investigadores. "Se somos mais diversos, somos mais resistentes a parasitas e doenças", explicou Laurent Keller, perito em insetos da Universidade de Lausana. "Numa colónia de clones, se uma formiga é susceptível a um parasita, todas são susceptíveis. Por isso, se somos assexuais, normalmente não duramos muito tempo", referiu em entrevista ao site da BBC. A evolução é também mais lenta e difícil.

Contudo, esta espécie não parece afetada com o problema. A Mycocepurus smithii há muito que cultiva a sua própria comida, que também se reproduz de forma assexuada. "As formigas descobriram a agricultura muito antes de nós - têm cultivado jardins de fungos há 80 milhões de anos", disse Anna Himler.

"Recolhem plantas, fezes de insetos e até insetos mortos do chão da floresta e alimentam a sua colheita", acrescentou. Esta espécie consegue ter mais colheitas que qualquer outra, desconhecendo os cientistas o porquê. A bióloga norte-americana acredita que as formigas conseguem algum tipo de vantagem ao não estarem sujeitas às limitações de se reproduzirem sexualmente, tal como os fungos de que se alimentam.

A falta de machos não representa qualquer problema para as colónias, uma vez que mesmo noutras espécies de formigas o papel deles é secundário. Por isso, o facto de todas serem fêmeas não significa trabalho extra para elas.

"O tempo dirá se esta formiga é uma espécie de 'escândalo assexual' ou se existe uma boa explicação, talvez fora do comum", indicou ao site Discovery News Jacobus Boomsma, director do Centro para a Evolução Social e professor da Universidade de Copenhaga. Os cientistas vão continuar a investigar as causas que levaram a esta reprodução fora de comum.

Encontrei no Formigueiross



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