Em alto mar

Nossos oceanos sofrem com a poluição. Há mais de uma década, descobriu-se que a Corrente do Atlântico Norte abrigava toneladas de resíduos plásticos. O acúmulo rapidamente se tornou conhecido como a “Grande Mancha de Lixo do Pacífico”. Foi um alerta chocante e mostrou ao mundo que até os locais mais remotos do planeta não eram imunes à nossa cultura do desperdício. Há cinco correntes principais nos oceanos da Terra. Em janeiro, membros do grupo de defesa marítima 5 Gyres (5 Correntes) partiram para mapear a Corrente do Atlântico Norte. Eles suspeitavam que os mares do mundo estavam mais poluídos do que se pensava — uma grande mancha de lixo estaria à deriva entre as Ilhas Virgens norte-americanas e Bermuda, mas ninguém jamais a havia observado.
O primeiro arrasto

Assim que a primeira rede de arrasto foi retirada da água, os piores temores da equipe se confirmaram: plástico. A disseminação do material chocou Stiv Wilson. “Se você procurar, encontrará plástico em todo lugar, dentro e fora das correntes”, explicou Wilson. “Basta navegar a três quilômetros da costa de São Francisco e puxar uma rede de arrasto para encontrar lixo. Ele é mais frequente nas correntes, mas está em toda parte”.
Retirando amostras com a mão

A maior parte desta massa marrom é natural. É um tipo de alga chamada sargaço, o outro nome pelo qual é conhecido o mar onde se localiza a Corrente do Atlântico Norte: Mar dos Sargaços. Mas os pesquisadores estão retirando grandes pedaços de plástico à deriva na superfície. Ao contrário do que muitos pensam, os “bolsões de lixo” no oceano ocorrem em várias profundidades. Fragmentos de plástico de todas as formas e tamanhos movem-se pela coluna de água; às vezes, são bastante dispersos, em outras, formam densas linhas dispostas pelos ventos.
Coisas grandes

Durante os quase 40 arrastos realizados na Corrente do Atlântico Norte durante esta viagem, a rede nunca voltou vazia. “Pegamos plásticos em cada um deles”, comentou Wilson. Esta pilha de lixo foi retirada da água ao longo de 40 minutos. “Esta quantidade foi retirada por apenas duas pessoas usando redes para limpar piscinas”, disse Wilson. “Conseguimos remover cerca de 10% de todo o lixo que vemos na água”.
Coisas pequenas

Entre pequenos peixes, a equipe encontrou partículas de plástico azul e até pedaços de plástico virgem, que possivelmente caíram de um cargueiro ou foram levados por um rio até o oceano, antes mesmo de se transformarem em um produto. “Como eu gosto de dizer, a merda rola montanha abaixo, e no final da montanha estão os oceanos”, disse Wilson. Grandes rios como o Columbia e o Mississippi transportam enormes quantidades de resíduos plásticos para os oceanos, onde permanecem definitivamente. Quando chegam ao alto mar, alguns peixes podem confundir o plástico com alimento. Os cientistas não sabem com que frequência isso acontece, mas eles temem que as substâncias químicas contidas no plástico possam se infiltrar nos tecidos dos animais e lentamente a contaminar a cadeia alimentar. Aves marinhas e grandes predadores – incluindo as pessoas – podem estar comendo estas coisas no almoço sem perceber.
Recife de plástico

O artista holandês Maarten Vanden Eynde (à esquerda) ajuda a recolher materiais para construir um recife de 40×10 metros feito com o plástico removido dos oceanos. Ele não perdeu a viagem: a expedição recolheu 400 quilos de fragmentos de plástico, parte deles em praias das Ilhas Virgens e Bermuda, mas a maioria em alto mar. Entre eles, estava o que Stiv Wilson chama de “seu pedaço de plástico favorito” (abaixo): um fragmento com uma palavra ainda visível, parecendo uma mensagem rasgada por quem jogou o objeto fora.

Uma batalha perdida?

Retirar plástico dos oceanos à mão jamais funcionará. Wilson afirma que, enquanto eles enchem um cargueiro de lixo, a atividade humana diária lança uma quantidade várias vezes maior nos oceanos. “Está crescendo a uma velocidade alarmante”, alertou, apesar de admitir que ninguém sabe quanto plástico é lançado nos oceanos todos os anos, nem a quantidade que chega às correntes marítimas.
Créditos: Stiv Wilson/5 Gyres
Como seu nome diz, a 5 Gyres (Cinco Correntes) pretende explorar as cinco maiores correntes da Terra. Até o momento, somente as correntes do Pacífico e do Atlântico Norte foram amplamente pesquisadas. Mas Wilson afirma que seus colega encontraram plástico na corrente do Oceano Índico durante uma recente incursão preliminar. “O problema está crescendo de forma alarmante”, alerta. A única forma de acabar com o problema uma redução dramática do consumo de plásticos, especialmente descartáveis como tampas de copos de café, sacos de supermercado e canudos de refrigerante. “Não vamos encontrar para-choques no mar”, comentou Wilson.”Parece banal, mas precisamos de um esforço conjunto para reduzir nossa dependência de plásticos descartáveis”.
Fonte: DiscoveryBrasil
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